segunda-feira, 19 de março de 2012

"Ascensão, apogeu e... APOGEU"

Frases prontas, ditados populares, "clichês", voz do povo, senso comum. "Ascensão, apogeu e queda" é um enunciado inserido nessas categorias citadas. Baseado na história de grandes nomes, entre herois, conquistadores, políticos e afins, como, por exemplo, Aquiles, Júlio César e Napoleão, afirma que o ser humano trilha um caminho inexorável.

Tal caminho começa com a ascensão, que significa "elevação a um posto, dignidade ou poderio", de acordo com o Dicionário Aurélio. Abordando o cidadão comum, isto é, para não se restringir aos governantes ou pessoas com algum tipo de poder, pode-se dizer que alguém que obtém vitórias pessoas e/ou profissionais também ascende na vida. Conquista um emprego, passa no vestibular, compra um carro, reconcilia-se com um amigo, enfim, tudo isso pode ser considerado como um tipo de ascensão.



O passo seguinte é o apogeu, definido pelo mesmo Dicionário Aurélio como "o mais alto grau de elevação, o auge". É o ápice da vida de uma pessoa.



Consquentemente, depois vem o próximo nível: a queda. "Ruína, decadência".



Pois bem. Mas, será que é possível dividir a vida humana entre esses quesitos? Talvez, no caso de alguns personagens históricos/mitológicos. Júlio César e Napoleão Bonaparte ascenderam politicamente, chegaram no auge do poder ao conquistar algumas regiões e, depois disso, houve a queda de ambos, juntamente com a queda de seus respectivos impérios. Aquiles também se ascendeu aos poucos, foi conhecido por sua força, chegou em seu ápice ao ser um dos grandes responsáveis por tomar Troia e, pouco depois, foi morto.


Contudo, tais exemplos são suficientes para tachar esse caminho como obrigatório para todo ser humano? Ou, ainda que todos passem por "subidas, auges e ruínas", não me parece sensato que o percurso tenha que terminar com a queda. Por qual motivo não é possível se levantar, dar a volta por cima? Não obstante, infelizmente, não é incomum ouvir pelo mundo afora que todo homem tem sua ascensão, seu apogeu, e sua queda. E fim de papo.

O fato é que essa conclusão é equivocada. E é simples perceber o(s) erro(s). Pode ser abordado sob duas formas:

1) A queda é momentânea, e serve tão somente para buscar uma nova ascensão e um novo apogeu.
2) Mesmo no apogeu, no cume mais alto da montanha, existem alguns buracos, mas que não significam quedas. E é possível se manter no ponto mais alto do promontório, sem cair.

1)
Voltemos ao comentário acerca do "apogeu". Vamos supor que José tem 35 anos de idade, é formado em Direito há 10 anos, advoga em um escritório, está bem casado e vive razoavelmente bem financeiramente. Então, descobre que sua esposa está grávida do primeiro filho e, na mesma época, é aprovado em um concurso público do Ministério Público. Isso significa que ele alcançou o apogeu em sua vida? Até esse momento, sim, afinal, ele afirma que não havia sido tão feliz como agora, com a aprovação no concurso e com a notícia de que será pai.

Porém, quem disse que, no futuro, não poderá ocorrer novos apogeus? E aqui está a grande sacada. Por que, necessariamente, depois do apogeu, deve vir a queda como consequencia? Por que o próximo passo na vida de José é a queda? Ele perderá seu cargo no Ministério Público por alguma razão? Sua esposa o deixará? A gravidez será problemática e o filho nem chegará a nascer?

Ora, claro que são hipóteses possíveis de ocorrerem, mas são hipóteses. Não é uma regra. Ademais, ainda que uma ou mais dessas alternativas se concretizem, José pode lidar com isso de maneira sábia e não encarar como uma queda. Ou, ainda que ele saia chateado com a situação, é possível retomar o apogeu num futuro próximo. Exemplo: seis meses depois de receber as duas ótimas notícias, descobre que o concurso público foi anulado e, por conta de problemas na gestação, sua esposa sofreu um aborto involuntário. Obviamente, não é uma situação fácil de lidar. Dificilmente, José não ficaria triste. Mas, a vida continua. E seu grande trunfo é não desistir. Ou seja, pode até ser considerada uma queda em sua trajetória de vida, mas nada que seja definitivo. Basta sua força de vontade para se reerguer, estudar, passar em outro concurso e também tentar, junto à esposa, uma nova gravidez. Com o tempo, consegue a aprovação e também o nascimento de um herdeiro. E, novamente, estará em seu apogeu.

Disso denota que ao homem - mesmo que obtenha algumas quedas em sua vida - é possível sempre estar rumo ao apogeu. Como diria Fernando Pessoa: "Pedras no caminho? Guardo todas, um dia vou construir um castelo..."

2)
Poderia usar o mesmo exemplo de José aqui. No caso, após sua aprovação no concurso e a notícia sobre a gravidez da esposa (após atingir seu apogeu), ele continuou batalhando no dia a dia da vida e, em meio às dificuldades inerentes a todos, manteve seu apogeu até o fim de seus dias. Mas, tudo bem. Vamos analisar outro caso.

Maria batalhou muito para ser uma atriz famosa. Desde os 8 anos de idade, estudou teatro. Em sua infância, não brincou muito de bonecas nem costumava dormir de tarde, depois de chegar da escola. Treinava, treinava. Na adolescência, não tinha muito tempo para gastar em internet ou em telefonemas com amigas. Dedicava-se às aulas de interpretações, às artes cênicas.

Até que, com 18 anos, conseguiu um papel coadjuvante em uma importante peça, na qual o ator principal era um renomado ator de telenovelas (ascensão). Maria desempenhou seu trabalho de forma esplêndida, o que lhe rendeu um convite para participar de um seriado de uma grande emissora nacional (apogeu).

Desse momento em diante, Maria continuou trabalhando cada vez mais para ser uma atriz ainda melhor, para conseguir se manter na emissora e até conseguir papeis mais relevantes em sua carreira. Não foi fácil, evidente. Sentiu saudades da família que deixou em sua cidade natal; desentendeu-se com colegas de trabalho algumas vezes; foi criticada em certas atuações; gostaria de ter mais tempo de descanso; etc. Ou seja, enfrentou inúmeras dificuldades, mas não deixou que isso se transformasse em queda(s). Pelo contrário, sua força de vontade fez com que - mesmo sendo desequilibrada por vários percalços - conseguisse se manter firme e bem estabilizada no ponto alto da montanha, no apogeu. Sua disciplina foi responsável por permanecer no auge.

Enfim, no caso em tela (assim como vários outros), não foi necessário passar por uma queda após o apogeu, o que demonstra que é plenamente possível efetuar um caminho de ascensão, apogeu e apogeu. Não é fácil, mas, com disciplina, amor e força de vontade, é realizável.

Ou seja, assim como a todos é possível alcançar o apogeu, também a todos é possível passar por cima da queda, de uma forma ou de outra. Importante é perceber que o mais difícil não é alcançar o auge pessoal/profissional, não é conseguir chegar ao ponto mais alto da montanha mais alta do mundo, mas sim conseguir estabilizar-se no topo e construir sua moradia nas alturas, sem escorregar. E, mesmo que eventualmente escorregue, basta vontade para conseguir subir novamente.

No fim das contas, o responsável é você mesmo, e mais ninguém. Tenha ânimo, disciplina, humildade, fé e perseverança. Faça sua parte e colha os frutos. O apogeu é logo ali.