segunda-feira, 9 de julho de 2012

A liberdade no Filme "O Show de Truman"




O filme O Show de Truman é um prato cheio para ser analisado, não só filosoficamente, como na área da comunicação social, da sociologia e em várias outras vertentes. Contudo, o intuito aqui é esmiuçar essa grande obra – do diretor Peter Weir – especificamente no que tange ao tema da liberdade.

E a liberdade criticada pelo filme não está somente no fato de o personagem principal estar enclausurado em um reality show. Também há uma crítica com relação à liberdade amorosa, à liberdade de ir e vir, dentre outras; inclusive há também uma crítica à religião como um todo, como se fosse algo que restringisse a liberdade do ser humano. Isso tudo será visto adiante.

Como início, fundamental uma interpretação do enredo. Com muita inteligência, o diretor do filme coloca Seahaven – uma “ilha” na qual Truman vive – o cenário do maior reality show que o mundo já viu. Nota-se que o nome da ilha significa “Refúgio do mar”, “Abrigo do mar’, “Paraíso do mar”. Nesse “paraíso”, uma só pessoa é a estrela, o personagem principal (e o único que não sabe que é personagem, pois vive sua vida de forma real). O resto todo são atores, participantes do programa. Lá, tudo é mentira. Os amigos de Truman, a esposa, o emprego, a cidade.

“Não há nada de falso no próprio Truman”. Essa frase é de Christof, o criador do programa, o criador de tudo. Obviamente, não pode haver nada de falso em Truman. Por quê? Porque ele, como já dito, é o único que vive uma vida real, em que não é personagem. Além disso, seu nome: Truman: em inglês = True + man, que, ao traduzir para o português: verdade + homem, ou seja, Trumam = o homem verdade, o homem verdadeiro, o verdadeiro homem.

E em que consiste o verdadeiro homem? Num homem livre, ou seja, sincero para consigo mesmo, sem máscaras, sem outras personalidades, sem encenar seu próprio eu, um não-ator, um homem verdadeiro. E esse é Truman.

“É tudo verdade, é tudo real. Nada do que virem é falso, é apenas controlado”, diz Marlon, seu melhor amigo. Mas, será que o homem que não é livre e que não vive pela verdadeé real, tem uma vida real?

Mesmo tendo um ótimo emprego, um grande amigo e uma bela esposa, Truman não está satisfeito. Sem saber, tudo gira em torno de si, para que tenha uma ótima vida. E quem não gostaria de ser o Truman, que todos veem na televisão? A grande maioria das pessoas, de acordo com o senso comum, pensa que a vida da estrela é sensacional, maravilhosa. Mas ele quer mais do que aquilo. Quer viver a sua vida, não uma vida imposta.

E um dos aspectos em que ele está insatisfeito diz respeito ao sentimento, ao amor. Truman não ama sua esposa. Ama Lauren (ou melhor, Sylvia). Foi amor à primeira vista. Porém, nunca deixaram que eles tivessem uma relação, pois ele já estava destinado à se casar com Meryl. Mas ele quer viver um amor verdadeiro. Trata-se de uma necessidade de externalizar seus sentimentos verdadeiros, agir com liberdade quanto aos seus anseios afetivos.

Todavia, ao se relacionar com Sylvia, ela é retirada do programa e seu suposto pai diz que eles vão se mudar para Fiji. Desde então, Truman faz planos de também ir para lá. Dessa forma, ele sairia de seu mundinho, conheceria novos lugares e ainda reencontraria o amor de sua vida. Nota-se aqui o problema da liberdade de ir e vir, que sempre foi algo buscado e não conquistado por Truman.



E, efetivamente, um grande fator que o prende é a própria cidade de Seahaven. Desde criança, Truman quis ser explorador. Tinha planos de viajar, aventurar-se mundo afora. Mas sempre foi tolhido pelos pais, pelos professores, por seus dominadores presentes em toda a ilha. Inclusive, uma das formas de fazer com que ele ficasse ainda mais preso, foi a morte (mentirosa) do pai planejada por Christof, para que Truman ficasse com medo do mar e, assim, fixasse cada vez mais suas raízes no mundo ilusório. E, com a questão de Sylvia, o povo de Seahaven passou a ter ainda mais cuidado para que o grande astro não se empenhasse em “fugir”.

Interessante notar que o início de toda a desconfiança por parte de Truman se dá no início do filme, com a queda de uma luminária, que seria parte do cenário do programa, correspondente à estrela Sirius. Vejam, uma “luz” traz iluminação para Truman, e, assim, traz também o início do “conhecimento”, da verdade.

Depois disso, o problema da frequência do rádio, enquanto Truman dirigia, definitivamente o acorda do sonho. Ele começa a reparar na cidade. Nesse dia, não caminha para o escritório, mas para outro edifício, onde vê um cenário por trás do elevador. Isso o leva a novas desconfianças, a novos questionamentos, inclusive quanto à profissão da esposa. Isso tudo faz com que a força de vontade de Truman seja cada vez maior, a fim de se ver livre, a fim de encontrar a verdade. Em busca de Fiji, de Sylvia. Em busca de seu verdadeiro eu, em busca de sua liberdade.

Por fim, a crítica à religião, ou melhor, à Deus. O nome do criador do programa é Christof que, em inglês, pode ser destrinchado em: Christ + of. Traduzindo para o português = Cristo + de, ou seja, de Cristo, de Deus. Programa de Deus ou programação de Deus. Nesse viés, o mundo de Deus é um mundo de mentiras e, somente se livrando dele, como Truman faz no final do filme, é que se consegue atingir a liberdade, a verdade, enfim, é que se consegue ser um homem de verdade.

Eu, particularmente, discordo de tal crítica, como um todo, no sentido de que acreditar em Deus dificulte nosso acesso à liberdade e à verdade, mas concordo que algumas atitudes religiosas podem de fato atrapalhar o ser humano.



Continuando, numa certa parte do filme, em uma entrevista, é perguntado a Christof: “Por que acha que Truman nunca chegou a descobrir a verdadeira natureza do mundo que o rodeia?” E ele responde: “Nós aceitamos a realidade do mundo com o qual nos defrontamos. É muito simples”. Nesse momento, aparecem dois vigias assistindo à entrevista e um deles assente com a cabeça. Veja que os seguranças estão totalmente presos à televisão, ao programa, ou seja, aceitam a realidade do mundo a qual se defrontam, como Christof disse, e não fazem nada para mudar. Continuam prisioneiros da televisão.

E, tal como esses dois vigias, também as garçonetes, o homem da banheira, as senhoras no sofá de casa, quantos não são prisioneiros da televisão? E quantos não são prisioneiros de falsos relacionamentos? Quantos ainda não são prisioneiros de um trabalho do qual não gostam? De uma cidade na qual se entediam? Mas, mesmo assim, não têm a disposição necessária para tentar mudar de vida, para serem mais felizes, enfim, não têm a vontade de serem mais livres, de viverem de verdade, e não somente sobreviverem enclausurados.

Uma vida verdadeira, uma vida mais livre envolve muitas dificuldades, muitos sofrimentos. Perceber a ilusão é o primeiro passo. Depois, aos poucos, vem os outros, igualmente difíceis. Da mesma forma aconteceu com Truman. Sua dificuldade em lidar com a esposa, com o amigo, com a mãe (e com o pai). Consequentemente, sua decisão em abandonar a todos. E seu choro de angústia e revolta ao descobrir o fim do mar, a mentira face a face. Porém, depois, vêm a libertação.



Nesse momento, ele descobre quem ele é. “Você é o astro”, diz Christof. “Você era real, por isso todos gostavam de ver”, ele continua. E assim é o ser humano. O mais interessante, o que as pessoas mais gostam e mais respeitam é o homem verdadeiro, aquele que não mente, que não manipula, que não usa máscaras, que não é ator, que não é falso. E Truman é o trueman, o homem verdadeiro. O criador do programa continua: “No meu mundo, você não tem nada a temer”. Mas o que é melhor? Viver uma vida de ilusão, sem medos, ou uma vida verdadeira, livre, com os temores naturais?

Assim, Truman se livra de sua vida de mentiras. E todos comemoram: o povo do bar, as senhoras do sofá de casa, o homem na banheira e os dois vigias. Por fim, o programa acaba. É o fim da transmissão. Com isso, um dos seguranças diz: “Não tem mais nada para ver”. E vão mudar de canal. Ou seja, não foi somente Truman que se livrou de sua prisão. Todos os telespectadores também se libertaram de quase trinta anos de programa.

Percebe-se, assim, que existe um mundo mais verdadeiro, um mundo mais livre. Mas é preciso ter luz, é preciso conhecer, é preciso, enfim, ter olhos de ver e ouvidos de ouvir. 

Para isso, muitas vezes é preciso trocar de canal. Ou até mesmo desligar a TV. Você está disposto a isso?


quinta-feira, 26 de abril de 2012

O ser antissocial


Antissocial (sim, agora, com a nova regra ortográfica, é o jeito correto de ser escrito) denota uma pessoa que não interage ou interage fracamente em sociedade.

Mas quais são os motivos que leva alguém se tornar antissocial?

Vários. Pode-se citar traumas de infância, como bullying, violência sexual, violência física, dentre outros. E, em vários casos, infelizmente, o comportamento antissocial leva a alguns distúrbios psíquicos e – até mesmo – a alguns crimes.

No entanto, não são esses casos (mais graves) o escopo do artigo. Aqui, será abordado sobre aquele indivíduo que se torna antissocial por ser diferente da sociedade em geral, do senso comum. Diferença essa que não resulta de um trauma (como já citado), mas sim de uma percepção diferente do mundo, mesmo sendo educado nos mesmos padrões dos chamados indivíduos sociáveis.

Percepção diferente do mundo significa não se adequar aos moldes “impostos” pela sociedade. Esta vem do latim societas, isto é, “associação amistosa com outros”, e se caracteriza por pessoas que possuem uma generalidade de costumes e propósitos. Ou seja, quando alguém não se insere nessa generalidade, faz parte da minoria, é diferente.



E tal diferença, geralmente, resulta em exclusão, em preconceito, em intolerância. Por mais que um mundo liberal – aos poucos – aceite mais e mais as diferenças, elas ainda são analisadas com muito rigor e tradicionalismo pela sociedade. Dessa maneira, não é incomum verificar que muitos dos seres antissociais – isolados – pertencem à “classe” dos diferentes, das minorias.
Gordos, gays, negros, etc. já é assunto batido, exaustivamente comentado e discutido. Então, será deixado de lado. Os diferentes da vez são aqueles que fogem da opinião e dos valores do senso comum. 

E, assim como os seres dos "grupos" já muito debatidos, os agora protagonistas também seguem a regra, isto é, são marginalizados da mesma maneira por exporem suas opiniões e ações de modo diversos do geral, do comum, do default, do padrão.

Tais pessoas, por terem uma visão bem distinta da maioria acerca da vida, dos prazeres, da rotina, do trabalho, do dinheiro, etc., não se cansam de ouvir questionamentos sobre seu padrão de vida. Ainda que esses questionamentos ocorram de forma jocosa, não é muito agradável ser tomado como o diferente, em diversas situações.

O fato é que, com tudo isso, não é raro pessoas desse tipo se tornarem antissociais. Aos poucos, vão se cansando de ouvir as mesmas piadas, do incômodo velado (ou não), causado pelo afronta ao que todos aceitam, da rotulação de politicamente correto - e, consequentemente, chato. Assim, a reclusão e o isolamento é consequência do ser diferente, pela convivência e pelo modo como a sociedade trata essa questão.

Na Grécia Antiga, Sócrates dizia que estava fora de lugar, sentia-se um estrangeiro em sua própria terra, ao ser acusado pelos políticos da época. Não há dúvida de que era um ser diferente. Contestava a educação, a política, as crenças religiosas, isto é, o senso comum. Além do mais, não possuía a beleza física exaltada pelos gregos, muito pelo contrário. 

Contudo, não virou um antissocial. Nadou contra a maré a vida toda. Acabou sendo condenado à morte por isso. 



Alguém se lembrou de Jesus Cristo? Também diferente, também contra os valores sociais de sua época, também condenado.

Um viveu há 24 séculos; o outro, há 20. E, com certeza, são dois dos maiores exemplos como seres humanos. Entretanto, não foram tolerados. Imagina, então, se os diferentes de hoje, pessoas comuns, nada excepcionais, serão?

segunda-feira, 19 de março de 2012

"Ascensão, apogeu e... APOGEU"

Frases prontas, ditados populares, "clichês", voz do povo, senso comum. "Ascensão, apogeu e queda" é um enunciado inserido nessas categorias citadas. Baseado na história de grandes nomes, entre herois, conquistadores, políticos e afins, como, por exemplo, Aquiles, Júlio César e Napoleão, afirma que o ser humano trilha um caminho inexorável.

Tal caminho começa com a ascensão, que significa "elevação a um posto, dignidade ou poderio", de acordo com o Dicionário Aurélio. Abordando o cidadão comum, isto é, para não se restringir aos governantes ou pessoas com algum tipo de poder, pode-se dizer que alguém que obtém vitórias pessoas e/ou profissionais também ascende na vida. Conquista um emprego, passa no vestibular, compra um carro, reconcilia-se com um amigo, enfim, tudo isso pode ser considerado como um tipo de ascensão.



O passo seguinte é o apogeu, definido pelo mesmo Dicionário Aurélio como "o mais alto grau de elevação, o auge". É o ápice da vida de uma pessoa.



Consquentemente, depois vem o próximo nível: a queda. "Ruína, decadência".



Pois bem. Mas, será que é possível dividir a vida humana entre esses quesitos? Talvez, no caso de alguns personagens históricos/mitológicos. Júlio César e Napoleão Bonaparte ascenderam politicamente, chegaram no auge do poder ao conquistar algumas regiões e, depois disso, houve a queda de ambos, juntamente com a queda de seus respectivos impérios. Aquiles também se ascendeu aos poucos, foi conhecido por sua força, chegou em seu ápice ao ser um dos grandes responsáveis por tomar Troia e, pouco depois, foi morto.


Contudo, tais exemplos são suficientes para tachar esse caminho como obrigatório para todo ser humano? Ou, ainda que todos passem por "subidas, auges e ruínas", não me parece sensato que o percurso tenha que terminar com a queda. Por qual motivo não é possível se levantar, dar a volta por cima? Não obstante, infelizmente, não é incomum ouvir pelo mundo afora que todo homem tem sua ascensão, seu apogeu, e sua queda. E fim de papo.

O fato é que essa conclusão é equivocada. E é simples perceber o(s) erro(s). Pode ser abordado sob duas formas:

1) A queda é momentânea, e serve tão somente para buscar uma nova ascensão e um novo apogeu.
2) Mesmo no apogeu, no cume mais alto da montanha, existem alguns buracos, mas que não significam quedas. E é possível se manter no ponto mais alto do promontório, sem cair.

1)
Voltemos ao comentário acerca do "apogeu". Vamos supor que José tem 35 anos de idade, é formado em Direito há 10 anos, advoga em um escritório, está bem casado e vive razoavelmente bem financeiramente. Então, descobre que sua esposa está grávida do primeiro filho e, na mesma época, é aprovado em um concurso público do Ministério Público. Isso significa que ele alcançou o apogeu em sua vida? Até esse momento, sim, afinal, ele afirma que não havia sido tão feliz como agora, com a aprovação no concurso e com a notícia de que será pai.

Porém, quem disse que, no futuro, não poderá ocorrer novos apogeus? E aqui está a grande sacada. Por que, necessariamente, depois do apogeu, deve vir a queda como consequencia? Por que o próximo passo na vida de José é a queda? Ele perderá seu cargo no Ministério Público por alguma razão? Sua esposa o deixará? A gravidez será problemática e o filho nem chegará a nascer?

Ora, claro que são hipóteses possíveis de ocorrerem, mas são hipóteses. Não é uma regra. Ademais, ainda que uma ou mais dessas alternativas se concretizem, José pode lidar com isso de maneira sábia e não encarar como uma queda. Ou, ainda que ele saia chateado com a situação, é possível retomar o apogeu num futuro próximo. Exemplo: seis meses depois de receber as duas ótimas notícias, descobre que o concurso público foi anulado e, por conta de problemas na gestação, sua esposa sofreu um aborto involuntário. Obviamente, não é uma situação fácil de lidar. Dificilmente, José não ficaria triste. Mas, a vida continua. E seu grande trunfo é não desistir. Ou seja, pode até ser considerada uma queda em sua trajetória de vida, mas nada que seja definitivo. Basta sua força de vontade para se reerguer, estudar, passar em outro concurso e também tentar, junto à esposa, uma nova gravidez. Com o tempo, consegue a aprovação e também o nascimento de um herdeiro. E, novamente, estará em seu apogeu.

Disso denota que ao homem - mesmo que obtenha algumas quedas em sua vida - é possível sempre estar rumo ao apogeu. Como diria Fernando Pessoa: "Pedras no caminho? Guardo todas, um dia vou construir um castelo..."

2)
Poderia usar o mesmo exemplo de José aqui. No caso, após sua aprovação no concurso e a notícia sobre a gravidez da esposa (após atingir seu apogeu), ele continuou batalhando no dia a dia da vida e, em meio às dificuldades inerentes a todos, manteve seu apogeu até o fim de seus dias. Mas, tudo bem. Vamos analisar outro caso.

Maria batalhou muito para ser uma atriz famosa. Desde os 8 anos de idade, estudou teatro. Em sua infância, não brincou muito de bonecas nem costumava dormir de tarde, depois de chegar da escola. Treinava, treinava. Na adolescência, não tinha muito tempo para gastar em internet ou em telefonemas com amigas. Dedicava-se às aulas de interpretações, às artes cênicas.

Até que, com 18 anos, conseguiu um papel coadjuvante em uma importante peça, na qual o ator principal era um renomado ator de telenovelas (ascensão). Maria desempenhou seu trabalho de forma esplêndida, o que lhe rendeu um convite para participar de um seriado de uma grande emissora nacional (apogeu).

Desse momento em diante, Maria continuou trabalhando cada vez mais para ser uma atriz ainda melhor, para conseguir se manter na emissora e até conseguir papeis mais relevantes em sua carreira. Não foi fácil, evidente. Sentiu saudades da família que deixou em sua cidade natal; desentendeu-se com colegas de trabalho algumas vezes; foi criticada em certas atuações; gostaria de ter mais tempo de descanso; etc. Ou seja, enfrentou inúmeras dificuldades, mas não deixou que isso se transformasse em queda(s). Pelo contrário, sua força de vontade fez com que - mesmo sendo desequilibrada por vários percalços - conseguisse se manter firme e bem estabilizada no ponto alto da montanha, no apogeu. Sua disciplina foi responsável por permanecer no auge.

Enfim, no caso em tela (assim como vários outros), não foi necessário passar por uma queda após o apogeu, o que demonstra que é plenamente possível efetuar um caminho de ascensão, apogeu e apogeu. Não é fácil, mas, com disciplina, amor e força de vontade, é realizável.

Ou seja, assim como a todos é possível alcançar o apogeu, também a todos é possível passar por cima da queda, de uma forma ou de outra. Importante é perceber que o mais difícil não é alcançar o auge pessoal/profissional, não é conseguir chegar ao ponto mais alto da montanha mais alta do mundo, mas sim conseguir estabilizar-se no topo e construir sua moradia nas alturas, sem escorregar. E, mesmo que eventualmente escorregue, basta vontade para conseguir subir novamente.

No fim das contas, o responsável é você mesmo, e mais ninguém. Tenha ânimo, disciplina, humildade, fé e perseverança. Faça sua parte e colha os frutos. O apogeu é logo ali.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Sobre sorte, azar, acaso e coincidência

É bem comum as pessoas creditarem algum resultado em suas vidas à sorte ou ao azar. Faz parte do senso comum essa espécie de convicção, e "sorte" e "azar" são muitas vezes usados como explicação, justificação, desculpa, consolo e afins para várias situações, inadvertidamente. Qual a razão desses termos?

A palavra sorte vem do Latim sors, que significa “parte, porção, o que cabe a cada um”. Com o tempo, seu significado passou exclusivamente a denotar “boa sorte, fortuna”. Já a palavra azar vem do Árabe sahr, “flor”, pois uma das faces dos dados árabes tinha o desenho de uma florzinha. Em Espanhol, essa palavra tem uma conotação diferente da nossa; quer dizer “acaso”, sem definir se é bom ou mau. Por fim, acaso vem do Latim a casu, “por acaso”, onde casu quer dizer “possibilidade, acontecimento” e deriva de cadere, “cair”. Não é uma noção interessante, a de comparar o acaso a algo que “cai” na nossa frente? (http://origemdapalavra.com.br/artigo/jogos-de-azar-na-aulinha)


Pois bem. Vejamos os conceitos desses dois termos, na atualidade de acordo com o Dicionário Aurélio. Começo com o conceito de sorte: "Força que determina ou regula tudo quanto ocorre, e cuja causa se atribui ao acaso das circunstâncias ou a uma suposta predestinação; Destino". Assim, pode-se conceber alguns exemplos: ganhar na loteria; passar em um concurso; vencer um jogo; etc.

Agora, o significado de azar: "Má sorte; fortuna adversa; caiporismo". Fortuna adversa é um acontecimento fortuito adverso, uma causalidade adversa. Caiporismo significa "má sorte ou infelicidade constante em acontecimentos fortuitos". Exemplos de azar: pneu do carro furar na estrada, não se sair bem em uma prova; tomar chuva em um dia em que saiu de casa sem guarda-chuva; etc.

A partir disso, pergunto: será que sorte e azar existem mesmo?

Pode-se notar que - na denominação de sorte - existem as palavras "predestinação", "destino", "força que determina". Não obstante a isso, essas palavras também estão presentes no significado de azar, uma vez que uma de suas qualificações é "má sorte", ou seja, o lado negativo da sorte. Assim, aqui também há um "destino", uma "força que determina", porém em seu sentido negativo.

E qual seria esse destino, essa força que determina a sorte ou o azar? Separo, aqui, duas tendências: a das pessoas que acreditam em Deus e a das pessoas que não acreditam em Deus.

Vamos tratar primeiro das pessoas que acreditam em Deus. Deus existe e é o criador de todas as coisas. Logo, por mais que exista livre-arbítrio, Deus já sabe qual vai ser sua escolha e qual vai ser o resultado de sua escolha, afinal Ele é onipresente e onisciente. Dessa forma, a "força que determina ou regula tudo quanto ocorre" é Deus, e o "destino" também é traçado por Deus. Aqui não existe um acaso que determina tal força.

Com isso, para essas pessoas, a sorte não pode existir. Consequentemente, o azar também não. Tudo é efeito da causa universal chamada Deus. Ainda que o ser humano tenha um livre-arbítrio, Deus já sabe qual é o resultado de suas escolhas, e isso não denota sorte ou azar, mas sim destino divino.



Passemos então para as pessoas que não acreditam em Deus. Para essas, o destino divino não existe, bem como a predestinação não pode existir. Se Deus não existe, há uma teoria do caos que "rege" a natureza. Logo, a "força que determina ou regula tudo quanto ocorre" é a força do caos, da natureza. E a causa dessa força se atribui ao acaso das circunstâncias. Existem tentativas de se explicar "tal força" (ou seja, essa natureza), como com a probabilidade, com parâmetros, variáveis, etc. Tentativas científicas ou matemáticas, mas as explicações não conseguem sair muito do âmbito do "acaso".

Nesse caso, a sorte e o azar são bem mais plausíveis como possíveis existentes do que no caso anterior. Se a teoria do caos não explica uma causalidade, mas somente dá sua probabilidade, a noção de sorte e azar já é bem mais aceita.

Consequentemente, para quem crê em Deus, nada acontece por acaso, ou seja, não existe coincidência. Deus tem um plano para cada um de nós, que - mesmo com o livre-arbítrio para traçar nosso destino - Deus já o traçou ou, ao menos, sabe o que traçaremos. Dessa forma, não existe coincidência, que é o termo utilizado para se referir a eventos com alguma semelhança mas sem relação de causa e consequencia.

Já para quem não crê em Deus, as coisas acontecem por acaso, ou seja, não há uma relação de causa e consequencia. Logo, significa que podem haver coincidências. Coincidências estas que podem ser resultados de alguma sorte ou de algum azar.

Vale lembrar a origem da palavra coincidência: "vem do Latim CO, “junto”, mais IN, “em”, mais CADERE, “cair”. Estas duas últimas palavras formaram o verbo COINCIDERE, “cair sobre”. Assim, quando duas coisas caem (ocorrem, incidem) juntas dizemos que houve uma coincidência." (http://origemdapalavra.com.br/palavras/coincidencia)

Enfim, concluo que: para quem crê em Deus, não existe sorte, azar nem coincidência. E, para quem não acredita no divino, o contrário. Concorda?



sexta-feira, 8 de abril de 2011

O prazer das tragédias

A palavra tragédia, vinda do grego, significa uma "forma de drama em que frequentemente há um conflito entre um personagem e algum poder de instância maior, como a lei, os deuses, o destino ou a sociedade" (wikipedia). Com o tempo, esse conceito alterou-se. Atualmente, tragédia significa "acontecimento que desperta lástima ou horror; ocorrência funesta; sinistro" (Dicionário Aurélio)

A partir disso, é de impressionar como o ser humano alimenta as tragédias que ocorrem no mundo. No mundo contemporâneo em que se vive então, nem se fala. Porém, essa é uma questão histórica e filosoficamente tratada, desde tempos remotos.

Valho-me de um estudo de Christiani Margareth de Menezes e Silva, doutoranda pela PUC-RJ, em que ela disserta sobre a representação da tragédia (grega, é verdade, mas que pode ser analisada contemporaneamente também), através de pinturas e teatros, por exemplo, na visão aristotélica.



Segundo seu artigo SOBRE O PRAZER DA TRAGÉDIA EM ARISTÓTELES (http://www.ifcs.ufrj.br/~afc/2009/MENEZES.pdf), Aristóteles - em suas obras Retórica e Poética - afirmava que, à primeira vista, parece que a tragédia não proporciona prazer (hédone), mas dor (lype). Contudo, no decorrer das obras, o grego explica que todo ser humano possui a mímesis (imitação) intrinsecamente associado à sua vida, desde seus primeiros anos. Inclusive, é uma forma de conhecimento de mundo e de si mesmo.

E essa "imitação" que é reconhecida pelo homem lhe dá uma sensação de prazer. De acordo com Menezes, "Todos os homens sentem prazer em reconhecer o que lhes aparece através do mímema. Mesmo o que é repugnante na realidade é prazeroso ao ser mostrado através do mimético, mas isso porque aprendemos reconhecendo o que o mímema apresenta, e esse prazer em reconhecer é partilhado por todos os homens."

Nessa seara, reportemo-nos ao caso ocorrido ontem, dia 07/04/2011, no Rio de Janeiro. Um homem invadiu uma escola municipal no Rio de Janeiro e matou - até o momento - 12 crianças, com idades entre 12 e 14 anos. Fora dezenas de feridos que ainda correm risco de morte.

O crime foi bárbaro e chocante, não há dúvidas nisso. Ainda mais que foi cometido contra crianças, que sempre são referidas como seres humanos mais puros e mais indefesos do que os adultos.

Por isso, os meios de comunicação não falaram de outra coisa. Inclusive os canais e programas dedicados a esportes, músicas e outros comentaram, ainda que de forma breve, sobre o ocorrido.

Um canal jornalístico de TV fechada (ou seja, canal de TV a cabo, que precisa pagar para assisti-lo)  ficou nessa notícia das 10 até 24 horas de ontem, concluindo com uma "História sobre os crimes em escolas que ocorreram no mundo"!!!

Eu, particularmente, fiquei sabendo do fato em torno de 1 hora após o ocorrido. Li sobre ele na própria internet e pronto. Depois não vi nenhum jornal televisivo, nem li nos jornais de hoje a repercussão e o detalhamento do crime.

Praticamente todas as pessoas que se debruçaram sobre esse caso - que eu conheço - choraram. Foi-me dito inclusive que até algum(ns) jornalista(s) chorou(choraram) ou estavam com os olhos marejados apresentando a reportagem.

Pois bem, eu me pergunto: qual a utilidade de se debruçar tanto nisso? Vejam bem, não estou dizendo que é algo que não deveria ser veiculado, noticiado. Mas por que detalhar tanto? Por que mostrar imagens de crianças ensanguentadas; entrevistar alunos que sobreviveram, com seus 10 anos de idade; etc etc? Por que tanto sensacionalismo? 

Simples: porque o ser humano quer isso. Ele sente prazer em ver isso. Alimenta-se disso. Para de almoçar para assistir; para de trabalhar, para de conversar, para com tudo.  Mesmo se ele já viu a notícia, já leu, já sabe do que aconteceu. Mas não é o bastante. Tem que saber mais. Tem que saber dos pais das crianças mortas, dos irmãos, das crianças que sobreviveram, das que eram da mesma sala e das que não eram; tem que saber do pessoal que mora no bairro, etc etc.

É por isso que todo jornal (seja falado ou escrito) só divulga notícia ruim. Notícia boa não vende, não dá ibope. Não dá prazer ao ser humano.
No final de seu belo artigo, Menezes finaliza: "O efeito do trágico é despertar piedade e temor, mas o prazer da tragédia não consiste em sentir tais emoções, e sim reconhecer os fatos que levam a elas. A aprendizagem está, portanto, em compreender as ações humanas que levam ao desfecho trágico."

E esse é o argumento de muitos: "O mundo é assim. Precisamos saber dos males do mundo".

Ok, mas será que precisamos dessa avalanche de cobertura relacionado a uma catástrofe bastante triste para compreender a ação humana que levou o assassino a efetuar tal ato? Precisamos ver fotos de crianças sangrando? Isso faz parte da tal "aprendizagem"? 

E outra: o mundo só tem males? E as notícias boas de ontem? Não teve nenhuma?

Se temos de compreender as ações humanas, vamos compreender através das ações boas também.
 
Enfim, isso me recorda certa vez em que um professor - que tive há uns 10 anos - disse à turma: "Eu não entendo. Se alguém entrar nessa sala e avisar que o Nobel da paz, o Nobel de Literatura ou um grande pensador está ali fora, 3 ou 4 pessoas vão sair para tentar conversar com ele. Agora, se alguém entrar aqui e avisar que na ali na frente houve um acidente com morte, todas as 200 pessoas vão sair da sala para verem o ocorrido".

Eu também não entendo...

sábado, 22 de janeiro de 2011

INCEPTION - Resenha

O blog começa abordando um filme excelente, um dos melhores do ano de 2010 para a crítica geral. Na minha opinião, o melhor do ano: "Inception".
Traduzido para nossa língua, transformou-se em "A origem". Porém, a tradução não foi muito feliz. Apesar de ser uma tradução literal, diante do contexto do filme, inception significa mais "inserção". Seria uma tradução mais condizente com o enredo.

Antes de começar a resenha propriamente dita, ficam algumas dicas: 1) trata-se de spoiler, ou seja, falarei sobre o filme todo. Portanto, quem ainda não viu, volte aqui depois de ter assistido; 2) o filme é grande, denso, complexo. O roteirista demorou 10 anos para escrevê-lo. Por isso, a resenha está bem grande e necessita de paciência para ler tudo. 3) Umaresenha muito bacana que li sobre tal filme está neste link: http://www.saindodamatrix.com.br/archives/2010/08/inception.html. Gostei do viés totalmente voltado para a psicologia. Eu praticamente nada entendo sobre isso, mas achei bem plausível, principalmente no que tange aos nomes dos personagens. Porém, não concordo muito com a explicação do filme. Tenho minha própria interpretação.

A forma será a seguinte: contarei o filme inteiro, com alguns pequenos apontamentos e destaques. Somente após isso, colocarei minha interpretação.

Bem, mãos à obra!



PARTE 1 - CONTANDO O FILME

Começa o filme com Cobb (Leonardo DiCaprio) na praia. É levado até um homem velho, que diz conhecer o pião de Cobb, já ter visto antes. "Há muitos e muitos anos. Pertencia a um homem que conheci num sonho meio esquecido. Um homem que possuia conceitos muitos radicais." Ele roda o pião e ele não cai.

Após isso, Cobb está em um sonho, tentando pegar um "segredo' de Saito (Ken Watanabe) - em duas camadas de sonho - e não consegue (por uma falha do arquiteto) e acorda. Ele roda o pião, e este cai. Logo após, o telefone toca, e quem estão na linha são seus filhos. A vó não quer falar com ele e diz aos filhos que o pai nunca voltará. Cobb precisa ir embora do país, pois a COBOL, empresa para quem ele trabalha, não aceitaria a falha de ele não ter conseguido descobrir o segredo de Saito.

O arquiteto que falhou no início é pego por Saito. Este diz que não fará nada com ele, mas não pode dizer nada sobre a COBOL Engenharia.

Saito diz que quer que eles façam uma inserção (Inception), e que isso os livraria da punição da COBOL. Cobb diz que pode se ajeitar com a empresa por si só e não aceita a proposta. Saito deixa eles, mas, quando estão indo, pergunta: "gostaria de ir pra casa?" Cobb diz que ninguém pode fazer isso. Saito retruca: "é como a inserção...". Cobb se interessa, mas quer uma garantia de que terá seu "pagamento". Saito diz: "não tem garantia. Tem que confiar em mim. E então? Quer dar esse voto de confiança ou virar um velho cheio de arrependimentos, esperando morrer sozinho?"

É aí que Cobb aceita o trabalho da Inserção. Do que se trata: existe um jovem empresário, Robert Fischer (Cillian Murphy), que herdará um negócio gigantesco de seu pai, que está para morrer. Saito é o único concorrente dos Fischer, e quer que o filho, ao receber a empresa, "desmantele o império do pai".

Seu amigo, Arthur, fala que não podem fazer isso. Cobb diz: "já fiz isso antes".
Após isso, Cobb vai atrás do Miles (Michael Caine) - avô das crianças, pai da esposa de Cobb - e diz que precisa de um arquiteto. Miles não concorda, diz pra ele parar de fazer o que está fazendo. Cobb diz: "só estou fazendo o que sei, o que você me ensinou", que é entrar na mente das pessoas. Miles diz: "volte a realidade, por favor". Cobb responde: "a realidade dos meus filhos é estarem esperando seu pai. Preciso de um arquiteto tão bom quanto eu fui".

Nos primeiros sonhos com Ariadne (Ellen Page) como arquiteta, quando ela começa a mudar as coisas, construindo pontes, colocando a cidade "de cabeça pra baixo", etc, Cobb diz: "quanto mais você mudar as coisas, mais meu subconsciente vai perceber e vai se voltar contra você."

De repente, ela cria um lugar que ela conhece, que ela passa pra ir pra faculdade, e Cobb se lembra de alguns momentos lá com sua esposa. Ele diz que ela nunca pode criar lugares que já conhece, somente lugares novos.

Ela pergunta: "por que?". Cobb diz: "Porque construir sonhos de memórias é o modo mais fácil de não distinguir a realidade do sonho." E Ariadne alfineta: "Foi isso que aconteceu com você?" Cobb fica puto, agarra-a e diz: "Isso não tem nada a ver comigo". Mas ela percebe e retruca: "por isso que precisa de mim para criar seus sonhos?" Neste momento, todas as pessoas estão olhando para eles, e os seguram. É quando chega Mal e mata Ariadne, que acorda. Pouco depois, Cobb também acorda.



Cobb diz a Arthur que Ariadne precisa de um totem. Enquanto este explica o que é um totem, Cobb usa o seu pião, e ele para de rodar e cai, exatamente na hora em que Arthur diz: "quando vir o seu totem, saberá que não está no SONHO DE OUTREM."

Cobb procura Eames (Tom Hardy) - um amigo - , na India, porque precisa de uma dica de como fazer a Inserção. Ele diz que é a partir do mais simples - no caso - o relacionamento com o pai. De repente, aparecem os caras da COBOL. Cobb foge e Saito aparece para salvá-lo, do nada.

Ele se encontra com Yusuf (Dileep Rao), o químico indicado por Eames. Cobb quer um sonho com 3 camadas e, para isso, precisa de um sedativo. Yusuf mostra 12 pessoas dormindo, que vão lá todos os dias, sonhar de 3 a 4 horas por dia. Mas, no sonho, isso significa 40 horas.

Saito pergunta: "Por que isso?". Yusuf diz: "Responda a ele, Mr. Cobb." "Depois de algum tempo, é a única forma de sonhar". Yusuf pergunta: "Ainda sonha, Mr. Cobb?" "Não." Eames pergunta: "eles vem aqui todos os dias para dormir?" O ajudante de Yusuf responde: "NÃO, ELES VEM AQUI PARA SEREM ACORDADOS. O SONHO TORNOU-SE A REALIDADE DELES."

E, olhando para Cobb: "QUEM É VOCÊ PARA DIZER O CONTRÁRIO?"

Cobb então dorme neste lugar, com as outras pessoas, e sonha com Mal, como sempre. Ela diz: "Sabe como me encontrar. Sabe o que tem de fazer." Ele acorda atordoado e, quando vai girar o pião, Saito aparece. Assim, ele não consegue girar seu totem.

Mais pra frente, Cobb e Ariadne conversam sobre totem. Toda pessoa tem seu próprio totem e ninguém mais pode pegar. Ela pergunta se a ideia foi dele. Ele disse que foi de Mal, que o pião era dela!!!

Cobb conta a Ariadne que quer voltar pra casa. Ela pergunta por que ele não pode voltar? Ele diz que é porque acham que ele matou mal. Logo após diz: "Obrigado". Ariadne: "Pelo que?" "Por não me perguntar se eu matei".

Pouco depois, Ariadne vê Cobb dormindo e conectado sozinho, como sempre fazia "depois do expediente". Ela já queria entrar nesse sonho há tempos e, agora, sem ninguém por perto, ela entra. E vai "descendo em um elevador". Encontra um quarto aparentemente de criança; desce mais um andar e vê Cobb com Mal, falando a mesma coisa: "Você sabe onde me encontrar, você sabe o que tem de fazer. Lembra-se de quando me pediu em casamento? Você disse que sonhou que envelheceríamos juntos. E podemos."

É quando Cobb vê Ariadne e diz que faz isso porque nos sonhos eles ainda estão juntos. Ariadne diz que não são apenas sonhos, são memórias, que ele mesmo disse para nunca usá-las. Porém, Cobb não consegue esquecer. Ariadne quer saber o que tem no "último andar", mas ele diz: "Só tem uma coisa que você precisa saber de mim". Ele mostra a última vez que viu seus filhos, depois de Mal ter morrido. Os filhos de costas (como ele sempre se lembra deles durante o filme).

Ariadne corre pro elevador e desce até "o último andar". Vê Mal, que diz: "Você sabe o que é estar apaixonada? Ser a metade de um todo? Vou lhe contar um enigma: Você está à espera de um trem, que irá te levar para muito longe. Sabe aonde espera que ele vai te levar. Mas não tem certeza. E não faz diferença. Como pode não se importar aonde ele irá levá-la?" É quando Cobb aparece e diz: "Porque estaremos juntos." Mal vai pra cima dos dois e diz: "você prometeu!!! Que ficaríamos juntos, que
envelheceríamos juntos!!" Eles acordam, enfim.

O pai de Robert Fischer, Maurice Fischer (Pete Postlethwaite), morreu. É hora de pegar o avião para irem de Sydney até Los Angeles, um dos voos mais longos do mundo. Assim será possível dormir por muitas horas, para chegar em 3 camadas de sonho.

Eles descem à primeira camada. A aeromoça está controlando o sono de todos. Estão no sonho do jovem empresário. Só que Fischer tem um exército treinado em seu subconsciente. Houve uma "extração" em sua mente.E um tiro atinge Saito. Ele não pode ser "morto" para acordar, pois o sedativo não permite, só podem acordar através do "chute".

Cobb diz que, se Saito morrer, ele irá para o limbo, e lá perderá a memória. Saito diz que vai cumprir o acordo. Cobb diz que ele nem se lembrará do acordo. "O LIMBO SE TORNARÁ A SUA REALIDADE. Ficará tanto tempo perdido por lá, que irá ficar velho." Saito diz: "Cheio de arrependimentos." Cobb completa: "esperando para morrer sozinho". Saito retruca: "Não, eu voltarei, e seremos jovens juntos, outra vez."

Robert diz ao tio (que na verdade é Eames) que a única palavra que ele conseguiu ouvir do pai, antes de morrer, foi: "decepcionado".

Ariadne pergunta a Cobb quando ele esteve no limbo. Ele diz que trabalhou junto com Mal, descobrindo os conceitos de um sonho dentro de outro, mas ele queria ir cada vez mais além, "só não entendia que horas podiam virar anos lá. E que podemos ficar presos de forma tão profunda que acabamos indo parar as margens do nosso próprio subconsciente. PERDEMOS A NOÇÃO DO QUE ERA REAL. Criamos e  construímos um mundo para nós mesmos. E fizemos isso por anos. Construímos nosso próprio mundo."  Ficaram lá por 50 anos. Ficou impossível para Cobb continuar. "No final ela estava possuída por uma ideia. De que nosso mundo não era real. E que ela precisava acordar para voltar à realidade e, para voltarmos para casa, tínhamos que nos matar." Quanto aos filhos, ela achava que eram projeções somente.

Em uma conversa dos dois na época, Cobb diz: "Se é meu sonho, por que não o controlo?" Mal diz: "Porque não sabe que está sonhando!"

No aniversário de casamento dos dois, ela está para pular da janela e diz a ele para pular com ela. Ele diz que não, que ela pulando não vai acordar, vai morrer, já conversaram sobre isso. "Estou pedindo que confie em mim", disse ela, pronta para pular.

Quando ela diz que deixou uma carta pro advogado falando que Cobb a ameaçou de morte, quer que ele pule com ela de qualquer jeito. Afinal, se não pular, vai ser acusado de homicídio. E ele pergunta: "por que fez isso?" Ela responde: "Eu amo você. Eu o libertei da culpa de ter que deixá-los. Nós vamos para casa, para nossos filhos verdadeiros". Então ela pula.
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Cobb explica que ela FOI DECLARADA SÃ POR 3 PSIQUIATRAS DIFERENTES, por isso não teve como ele explicar a natureza de sua loucura. Por isso, ele fugiu.

Eles entram na van e se aprofundam ainda mais: é a segunda camada do sonho. Entram no sonho dentro do sonho. Dessa vez, Yusuf está dirigindo a van e fica no controle das pessoas na primeira camada. Cobb agora é o Sr. Charles e diz para Robert Fischer que é responsável pela segurança do subconsciente. Fisher diz: "está falando de sonhos? Está falando de "extração"?" Sr. Charles diz que está aqui para protegê-lo (e então vê seus filhos, sempre de costas, com as mesmas roupas).

Yusuf está dirigindo a van e está sendo perseguido. Aos poucos, o subconsciente de Fisher (que são as outras pessoas do sonho) começam a perceber que tem coisa errada, e começam a procurar por quem está no sonho dele. É quando Arthur rouba um beijo de Ariadne.

Enfim, Sr. Charles consegue convencer Fischer de que ele (Sr. Charles) não é real, é somente uma projeção do seu subconsciente e é um segurança para protegê-lo, "caso os extratores tentem levá-lo para um sonho. E acredito que é o que está acontecendo agora, Sr. Fischer."

De repente, aparece o "tio Peter (Tom Berenger)" (dessa vez é o tio mesmo, uma projeção do Robert Fischer, e não Eames), e Robert desconfia dele. O tio assume que deu a vida pela empresa e só estava tentando fazer com que ela continuasse. Ele queria ficar responsável pelo testamento. Porém, ele diz: "Mas eu estava enganado. Você consegue construir uma empresa melhor do que ele." Cobb (Sr. Charles) diz que ele está mentido e precisa saber de verdade o que o tio quer. No fim, Cobb consegue com que Fischer faça o que ele sempre quis: entrar na mente do tio para descobrir o que ele esconde. Fischer concorda.

Contudo, o que o Fischer não sabe é que Cobb mentiu. Eles vão entrar no subconsciente do Fischer, e não do tio, para que o próprio Fischer ajude a equipe do Cobb "a invadir o próprio subconsciente", como diz Arthur, para que, assim, eles plantem a ideia.

Eles vão para a terceira camada de sonho, então. Desta vez, quem fica para dar o chute, é Arthur. Lá, com a ajuda de todos, Fischer está muito próximo ao "cofre", quando surge Mal. Uma projeção de Cobb? Cobb não consegue atirar nela, e ela vai de encontro a Fischer. Mal atira e o mata. Só após isso, Cobb atira em Mal e a mata.

Ariadne tem a ideia de segui-los até o limbo. Diz a Eames que eles vão lá buscar Fischer. E assim Eames tentará reanimá-lo para que ele entre em seu cofre. Será o "chute". Cobb aceita e eles vão descer MAIS uma camada no sonho. No limbo. Atrás de Mal e Fischer.

Eles vão. Durante o caminho da procura, Cobb diz a Ariadne: "Tem uma coisa que você precisa saber de mim. Sobre a inserção. Uma ideia é como um vírus. Resistente. Altamente contagioso. A menor semente de uma ideia pode crescer. Pode crescer para definir ou para destruir você." É quando ele encontra Mal - em sua antiga casa, onde ele viu pela última vez os filhos - e ela completa: "As menores ideias como: 'seu mundo não é real'. Um simples pensamento que muda tudo. Está tão certo do seu mundo? Do que é real? Acha que ele é? Ou acha que está tão perdido como eu estava?"

"Eu sei o que é real, Mal", diz Cobb. "Nenhuma dúvida cruel? Não se sente atormentado, Dom?" pergunta a esposa. "Perseguido pelo mundo por empresas anônimas e por forças policiais? Assim como as projeções perseguem o sonhador. Admita. Já não acredita mais em uma só realidade. Então escolha. Escolha ficar aqui. Escolha a mim."

Cobb diz que sabe o que tem que fazer, tem que voltar pros filhos que ela abandonou. Ela diz que os filhos estão ali, e que ele gostaria de ver os rostos deles. (Mas, mais uma vez, ele só os vê de costas, com as mesmas roupas). Ela chama os filhos, e - quando eles vão se virar - Cobb interrompe. Mal diz: "E se você estiver enganado, e esses forem nossos filhos realmente? E se eu for real? Você fica falando o que sabe. Mas no que você acredita? O que você sente?"

"Culpa", diz ele. "Sinto culpa, Mal. Não importa o que eu faça, ou o quanto esteja desesperado, ou o quanto esteja confuso... a culpa está sempre presente... me lembrando da verdade". "Que verdade?" "DE  QUE A IDEIA QUE FEZ VOCÊ QUESTIONAR A REALIDADE VEIO DE MIM".

Mal fica embasbacada e diz: "Plantou a ideia na minha mente?" Cobb explica que "a razão pela qual eu sabia que a inserção era possível foi porque fiz nela primeiro. Estávamos perdidos aqui. Precisávamos fugir. Mas ela não aceitava. Ela escondeu algo bem lá no fundo. A verdade que um dia ela conhecera, mas que escolheu esquecer. Não conseguia se libertar. Então eu decidi procurá-la. Penetrei fundo na mente  dela e encontrei o seu esconderijo. Invadi e plantei uma ideia. Uma ideia simples e pequena que mudaria tudo. QUE O MUNDO DELA NÃO ERA REAL".

"Que a única saída era a morte", completa Mal. É quando ele a convenceu de colocarem a cabeça nos trilhos e quando fala o "enigma do trem".

Porém, a ideia cresceu com Mal, mesmo depois de ela acordar. E, mesmo depois de voltar à realidade, continuou a acreditar que seu mundo não era real, e que a morte era a única saída.

Nessa parte, Saito, ainda no sonho de Fischer, morre.

Eames começa a tentar reanimar Fischer. Ariadne diz que chegou a hora de ela e Cobb irem. Cobb diz que vai ficar, porque Saito morreu, está aqui (no limbo) e ele precisa encontrá-lo.

Ariadne diz: "Você não pode ficar com ela". Por fim, ele diz: "Não posso mais ficar com ela, porque ela não existe". "Como não? Eu sou a única coisa na qual você ainda acredita". "Quem dera... é o que mais desejo, mas... (...) você á apenas a sombra da minha mulher. Você foi o melhor que consegui fazer. Desculpe-me, mas você não é boa o suficiente".

Mal pega a faca e enfia em Cobb, mas Ariadne a acerta com um tiro. E joga Fischer do alto. É o "chute". Fischer acorda em seu sonho e vai para seu cofre. Lá está seu pai, nas últimas. Fischer diz: "Eu sei que está decepcionado pai, por eu não ser como você." E o pai diz: "Não, eu fiquei decepcionado por você ter tentado". O filho, então, dentro do cofre, vê um brinquedo de papel que - provavelmente - deve ter feito por ele mesmo quando criança. Pronto. A inserção estava feita.

A van estava batendo na água do rio, Arthur acionou o chute de todos no elevador. Só Cobb ficou no limbo.

Lá, Cobb ainda consegue dizer a Mal - quase morta - que eles envelheceram juntos, assim como ele havia sonhado. Envelheceram juntos no limbo, afinal ficaram lá por uns 50 anos. "... mas acabou nosso tempo juntos". E, assim, Mal morre no limbo.

Então, as pessoas saem da van (menos Cobb) e Robert conversa com seu tio (Eames): "Meu pai queria que eu fosse eu mesmo. Não que eu tentasse imitá-lo. É o que vou fazer."

Nisso, volta a primeira cena do filme. Cobb é encontrado e levado até o homem velho, que é Saito. E ele diz: "Estou a procura de alguém. Não é possível. Cobb? Nós éramos jovens. Sou um velho." "Cheio de arrependimentos", complementa Cobb. "Esperando para morrer sozinho", Saito diz.

Cobb avisa: "Voltei para te buscar. Para lembrá-lo de algo... algo que você um dia soube. QUE ESTE MUNDO NÃO É REAL". "Para me convencer a honrar nosso acordo", diz Saito. Cobb: "Para dar um voto de confiança. Volte, para que possamos ser jovens juntos outra vez. Volte comigo."

Saito segura a arma de Cobb e eles voltam para o avião. Todos atordoados, principalmente Fischer, Saito e, claro, Cobb.

Cobb passa pela imigração. Miles o recebe. Eles chegam em casa. Cobb pega o pião e o gira. Neste momento, aparecem as crianças, com as mesmas roupas. Elas olham para trás. Cobb vai abraçá-las. O pião continua girando e não cai. O filme acaba.

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PARTE 2 - INTERPRETANDO O FILME

Vou começar indo direto ao ponto: O QUE É A REALIDADE? QUAL É A REALIDADE QUE O FILME "DEFENDE"? NENHUMA E TODAS, AO MESMO TEMPO.

Podemos notar isso desde o início do filme, quando Saito - velho e no limbo - afirma que conhecia o pião de um sonho esquecido. Se aquilo era um sonho, onde ele estava era real (para ele).

Logo após o início do filme, Cobb já aparece com Arthur e o antigo arquiteto dentro de um sonho do Saito. Agora, vem a pergunta: por que estavam atrás de Saito? A COBOL os enviou, podem argumentar. Mas... de onde é essa COBOL? Por que ela queria investigar o segredo de Saito? Não há explicação.

Nesse ínterim, há um primeiro e único contato de Cobb com seus filhos. Ele escuta o telefone e fala com eles. Pede para falar com a avó também, mas ela não quer. Diz que vai voltar logo. Algo importante a ser notado é que os filhos ligaram para um telefone fixo, em um local distante onde seu pai estava. E ele vivia viajando, não dava notícias... estranho as crianças saberem o número, não? Parece mais um sonho...

Em sequencia, Saito descobre onde o antigo arquiteto, Arthur e Cobb estão. Como? Ninguém sabe... coloca os dois últimos no helicóptero e diz sobre o projeto de inserção no jovem Fischer (o que vai ser fisgado, trocadilho legal). Cobb recusa de imediato, porém, também é fisgado quando o japinha diz: "gostaria de ir para casa? É como a inserção". Ok, agora me contem: como ele sabe que Cobb quer ir pra casa?

Ele aceita o trabalho proposto por Saito, pois afirma que já fez isso antes. Já fez em sua esposa, Mal.

Cobb vai atrás de seu sogro, Miles, pai de Mal - que, ao que tudo indica, foi o mentor de Cobb. Este explica a situação e o avô das crianças pede que ele volte à realidade. Cobb não lhe dá ouvidos e consegue a arquiteta, Ariadne.

Cobb explica para Ariadne que os sonhos não devem ser construídos a partir de memórias, pois faz com que confunda realidade com sonho.

Quando Cobb vai até a India procurar seu amigo Eames, é seguido - hipoteticamente - pelos homens da COBOL. Quando está para ser pego, quem aparece? Saito... por que? Como ele sabia que Cobb estava na India? Que realidade é essa?

Agora, vem uma das partes mais importantes do filme:

Quando Cobb se encontra com o químico Yusuf, ele mostra muita gente dormindo e sonhando, em seu laboratório. E Cobb explica que, "depois de algum tempo, essa é a única forma de sonhar". E diz que não sonha mais. No final, o ajudante do químico diz, olhando para Cobb: "ELES VEM AQUI PARA SEREM ACORDADOS. O SONHO TORNOU-SE A REALIDADE DELES. QUEM É VOCÊ PARA DIZER O CONTRÁRIO?"

É mais uma grande dica para - ao menos - começarmos a nos perguntar se Cobb está vivendo de sonhos desde o início do filme.

Logo depois dessa parte, Saito vai explicar a Cobb a questão da concorrência de sua empresa com a de Fischer e Cobb quer saber os detalhes. Saito titubeia em explica, e Cobb diz: "A semente, que plantarmos na mente dele, irá virar uma ideia. Essa ideia o definirá. Isso poderá mudá-lo completamente."



A partir desse momento, NUNCA MAIS o pião vai cair quando for girado. (O que não invalida que antes também não fosse sonho do Cobb, chegaremos lá).

Continuando, assim que passa essa parte, Cobb explica à Ariadne que o pião não era dele, mas sim de Mal. Ora, mas foi explicado por Arthur que cada um deve ter seu totem, que não pode ser nem encostado por outra pessoa, para não haver confusões. Pois é... mas esse era o de Mal e Cobb o apropriou, ou seja, não criou um totem para ele mesmo, assim como fizeram Arthur e Ariadne. É uma explicação para não se confiar no objeto. Não há muita credibilidade - se o pião cai ou não quando é girado - para a realidade de Cobb, mas sim para a realidade de Mal.

Ariadne entra nos sonhos de Cobb e vê a última vez que ele viu seus filhos (daquele jeito que ele sempre verá no filme: de costas, com as mesmas roupas). Depois disso, ela consegue descer até onde Cobb esconde seu maior segredo: quando Mal "morreu" (depois a explicação para o por quê das aspas). Foi no aniversário de casamento deles, e é quando ela conta a Ariadne o enigma do trem: "Você está à espera de um trem, que irá te levar para muito longe. Sabe aonde espera que ele vai te levar. Mas não tem certeza. E não faz diferença. Como pode não se importar aonde ele irá levá-la?"

Veja que podemos associar a esse enigma no início do filme. Cobb está em um trem, quando está no sonho de Saito.

Prosseguindo, já na primeira camada do sonho de Fischer para fazer a inserção, Saito é ferido e não pode ser "chutado" através de sua morte. O sedativo impede isso, de modo que - se ele morrer - irá ao limbo, como explica Cobb, que completa:  "O LIMBO SE TORNARÁ A SUA REALIDADE." Ariadne então pergunta a Cobb como ele já foi parar no limbo. Ele explica como foi, dizendo que eles perderam a noção do que é real e, no final, Mal estava possuída pela IDEIA de que ESTE MUNDO NÃO É O REAL. Aqui também vem outra parte fundamental do filme: Em uma conversa dos casal logo após saírem do limbo, Cobb diz: "Se é meu sonho, por que não o controlo?" Mal diz: "Porque não sabe que está sonhando!"  Nota-se mais uma vez a dúvida em saber se - de fato - tudo que se está passando desde o início não se trata de um sonho...

Pouco antes do suicídio de Mal, ela foi declarada sã por 3 psiquiatras diferentes. Dessa forma, não tinha como Cobb usar sua loucura como desculpa e salvar sua pele, já que ela deixou uma carta com seus advogados para culpar Cobb, caso ele não pulasse com ela. Também é mais um fator que pode ser considerado com Mal sendo quem sabia o que era a realidade o tempo todo, e não Cobb.

Dando um pulo até quase ao final, vem outra parte muito importante. Já quando estão no limbo Cobb, Mal, Ariadne e Fischer. Cobb começa explicando para Ariadne que uma ideia é como um vírus, A menor semente de uma ideia pode crescer. Pode crescer para DEFINIR ou para DESTRUIR você."

É quando Mal aparece e completa: "As menores ideias como: 'seu mundo não é real'. Um simples pensamento que muda tudo. Está tão certo do seu mundo? Do que é real? Acha que ele é? Ou acha que está tão perdido como eu estava? (...) Não se sente atormentado? Perseguido pelo mundo por empresas anônimas e por forças policiais? Assim como as projeções perseguem o sonhador. Admita. Já não acredita mais em uma só realidade. Então escolha. Escolha ficar aqui. Escolha a mim."

Mais uma vez, percebemos a dúvida que o filme coloca sobre a realidade de Cobb. É, de fato, sonho ou realidade? Para complementar, Mal diz que os filhos reais estão ali, e Cobb os vê (de costas, com as mesmas roupas). Mal os chama, e - quando eles vão virar o rosto, Cobb não aceita ver aquilo. Foi sua escolha.

E AGORA VEM O GRANDE PULO DO GATO: Cobb explica que plantou uma ideia em Mal. Que ele a fez questionar sobre a realidade do mundo. Ele não aguentava mais viver no limbo, queria voltar. Mas Mal não aceitava. Então, "penetrei fundo na mente dela e encontrei o seu esconderijo. Invadi e plantei uma ideia. Uma ideia simples e pequena que mudaria tudo. QUE O MUNDO DELA NÃO ERA REAL", diz Cobb.

Ou seja, Cobb PLANTOU ESSA IDEIA EM MAL, de que seu mundo no limbo não era real, para poderem voltar, "acordar". Mas essa era a realidade de Mal, assim como a realidade de Fischer não era desmantelar seu império. Porém, a realidade dos dois é "mudada" pela inserção de Cobb.
No caso de Fischer, parece que a ideia vai DEFINI-LO, mas no caso de Mal, DESTRUIU-A.

Cobb enfim encontra Saito no limbo e diz que está lá para buscá-lo. Para lembrá-lo de que ESTE MUNDO NÃO É REAL. Eles voltam para o avião, Cobb chega em sua casa e gira o pião na mesa. Quando reencontra seus filhos (com a mesma roupa e de costas), que olham para trás. Ele aceita e vai de encontro a eles. Foi sua escolha. A escolha de sua realidade. Porém, o pião não para de girar.



Enfim, desde o início o filme deixa em aberto sobre qual é e onde está a realidade. Minha interpretação é de que cada um escolhe sua realidade. Cobb escolheu a sua, quando quis sair do limbo com sua esposa. Aquela realidade não era boa para ele. Ele preferia outra. Já Mal queria a realidade do limbo.

Quanto a questão do totem, o pião não era de Cobb. Era de Mal. Por isso, no fim do filme, o pião não cai. Porque aquilo ali não era a realidade para Mal. A realidade era o limbo. E para Cobb? O filme deixa em aberto, afinal ele não tinha um totem. E ele sempre ficou confuso quanto à sua realidade... no fim, ele escolhe a que foi mostrada, mas o pião não cai...

Bom, é isso. Essa foi a realidade que eu vi no filme. Realidade que, para muitos, é um sonho. Não é mesmo?